Chamamos de idade média o recorte histórico que se
inicia no século V, com a queda do império romano do ocidente, e que vai até no
século XV, com a tomada de Constantinopla pelos turcos. Esse é o longo milênio
que chamamos de idade média, mas por quê?
Primeiramente devemos entender que o termo “idade
média” não existia entre as pessoas de seu tempo. Os homens do medievo não se
sentiam vivendo na “idade média”, para eles, estavam vivendo no período
contemporâneo e não tinham a noção da separação dos momentos históricos como
nós temos hoje (história antiga, medieval, moderna e contemporânea), tais
fragmentações só foram inventadas muitos anos mais tarde e hoje é usada para
facilitar os estudos sobre esses períodos.
“Idade
média” ou “idade das trevas”?
O termo “Idade média” surgiu no final do século XV
e início do XVI, entre os humanistas Italianos como forma de exaltação de seu
próprio tempo, por nomear de “média” o período anterior ao seu e que sucedeu a
antiguidade clássica. Os humanistas consideravam que do século V ao XV houvesse
uma grande pausa que se situava entre a antiguidade clássica e o renascimento,
para eles a “idade média” era um intervalo; um grande hiato, sinônimo de
atrasos e obscuridade, que mais tarde os iluministas do século XVIII chamariam
pejorativamente de “idade das trevas”, pois consideravam o medievo um tempo
obscuro, triste e atrasado onde às cegas crenças cristãs obscureciam a razão
humana.
De fato, não podemos negar que uma das marcas mais
fortes do medievo foi à religiosidade, onde a fé em Deus deveria guiar as ações
do homem no mundo terreno. Entretanto não podemos cair em generalizações e nos
mesmos preconceitos dos humanistas e iluministas, pois “a idade média” foi um
período de grandes produções artísticas, literárias e até mesmo filosóficas.
Logo podemos afirmar que A idade média está longe de ser essa “idade
das trevas”.
Se pensarmos bem, ainda hoje podemos encontrar
preconceito contra a idade média. Talvez mais do que qualquer outro período
histórico, ela ainda seja vista como sinônimo de atraso e intolerância. “Não é
raro encontrarmos pessoas sem conhecimento histórico ainda qualificando de
“medieval” algo que elas reprovam”[1]. Esse preconceito
é fruto da grande propagação do termo “idade das trevas”. Mas será mesmo que
foi apenas essa imagem negativa da idade média que se difundiu? A resposta para
a pergunta é não.
“Uma bela
idade média”
No século XIX surgiu "um outro olhar” sobre a
“idade média”. Esse, bem diferente dos anteriores, enxergava a beleza e a glória
do medievo como modelo de inspiração que deveria ser seguido pela civilização
ocidental.
Tal “olhar” foi tão significativo que influencia
produções literárias e cinematográficas até os dias de hoje. Certamente você já
deve ter tido contato com estórias magníficas de cavaleiros corajosos; de
lindas princesas e maravilhosos castelos. Esse “outro olhar” devemos aos
românticos, que no século XIX “redescobriram” uma “idade média” bem diferente
daquela dos humanistas e iluministas. Todavia essa “idade média” romântica
também é preconceituosa, muito idealizada, e que acabou por deixar de lado
algumas características não tão “bonitas” do medievo.
Então voltemos à pergunta inicial: o que foi a
idade média?
“Idade
média boa ou ruim?”
A idade média não foi um período marcado
exclusivamente pela pobreza, guerra, fome e peste; elas existiram de fato,
foram presentes no período, porém seria um engano grosseiro pensarmos que
apenas isso caracteriza esse recorte histórico. Quando falamos de idade média
falamos de: Feudalismo; cruzadas; inquisição; peste negra; surgimento das
universidades; cavalaria; sociedade feudal e de um mosaico de informações que
não transformariam a “idade média” na “idade das trevas” dos iluministas e nem
no passado idealizado dos românticos. Podemos compreender o período medieval
como uma longa era, com suas muitas especificidades e complexa demais para ser
delimitada como um período marcado exclusivamente de coisas boas ou de coisas
ruins.
Por Vinicius Pinheiro
[1] FRANCO
Júnior, Hilário. A idade média: o nascimento do ocidente. São
Paulo: Brasiliense. 2001. P.13.
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Referências:
LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada
aos filhos. Rio de Janeiro: Argila. 2007
FRANCO Júnior, Hilário. A idade média:
o nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense. 2001
__________________. O feudalismo.
São Paulo: Brasiliense. 1983